Quando John Elkington cunhou o termo sustentabilidade com o tripé dos seus aspectos econômicos, ambientais e sociais em 1994, ele não poderia imaginar que tal ideia traria tamanho impacto para a sociedade deste milênio. As empresas, sempre elas, compraram a ideia e passaram a tratar sustentabilidade como um diferencial bacana. A própria ONU evoluiu dos ODM (Objetivos do Milênio) para os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) em 2015. Daí para o surgimento da sigla ESG, a evolução foi natural.
Vivemos, todavia, num mundo de paradoxos onde o ser tem sido substituído cada vez mais pelo ter, pelo parecer, pelo divulgar e pelo curtir. Quando se examinam as opções práticas para nos tornarmos empresas “sustentáveis”, descobre-se o conflito de mito versus realidade. Não estamos falando do conceito de mito dos antigos gregos, mas sim de iniciativas que parecem ótimas, enquanto realidade traduz-se em dificuldades inerentes à implantação factual de tais iniciativas.
Analisemos, então, três iniciativas fantásticas que tem ocupado um enorme espaço no debate de ideias e nos parecem fundamentais para a salvação do nosso planeta, porém sob o prisma da realidade de uma pequena empresa – nós próprios, a ADS Logística Ambiental.
Primeiro, a substituição da energia elétrica convencional por uma fonte renovável e natural de energia solar. Investigamos a possibilidade de instalar painéis fotovoltaicos na cobertura da nossa central de operações em Barueri. O mito surge da percepção de que traremos impactos muito positivos tanto para o meio ambiente quanto para o suprimento cada vez mais escasso de energia elétrica sujeita a crises hídricas, backup por meio de termoelétricas e tarifas escorchantes. Todavia, o investimento se torna inviável quando o proprietário do imóvel (locado) não se dispõe a considerar qualquer tipo de amortização ao longo da locação, mesmo sabendo que, quando desocuparmos o imóvel, não levaremos as placas embora. Não faz sentido aprofundar muito a comparação energia elétrica versus energia solar se o horizonte de payback do investimento é inexistente.
Segundo, nos parece fantástica a ideia de substituir veículos a combustão por veículos elétricos. Quem não gostaria de aparecer bonito na foto divulgando a aquisição de caminhões elétricos para o bem da sociedade? Mais uma vez, nos detivemos a analisar os benefícios da mudança. Dificuldade inicial: não temos espaço para a instalação das baias de carregamento elétrico no nosso pequeno terminal. Ademais, trabalhando com recursos próprios, o desembolso para a adoção de veículos elétricos está num patamar bem acima daquele em que nos encontramos, principalmente porque nossa frota atual tem idade média inferior a três anos. Por fim, nossa operação não se limita às áreas urbanas e muitas vezes cumprimos roteiros de centenas de quilômetros em regiões que não dispõem de estações de carregamento compartilhadas.
Terceiro, a redução das emissões, até porque muitos nos questionam a razão de recolhermos itens pós-consumo em todo o país e trazê-los todos para Barueri/SP. Seria preferível a implantação de redes regionais de coleta e destinação final? Claro. Porém, a legislação ambiental prevendo a necessidade de licenciamento de instalações apropriadas para a logística ambiental sofre enorme influência de legislações municipais e estaduais absolutamente desconexas entre si quando se pensa na complexidade de uma federação com 27 entes distintos e a abrangência territorial brasileira. Se a geração dos resíduos, e consequentemente a coleta, se dá, por exemplo em Santa Fé do Sul/SP (na divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul), sigo para Campo Grande/MS – a 452 km – ou retorno para São Paulo/SP – 626 km? Logisticamente, não há fluxo viável no sentido de Campo Grande, e então a redução de emissões fica a ver navios. Sem contar que, ainda que não aplicável ao nosso negócio, milhares de caminhões e carretas seguem “passeando” pelo Brasil afora para “trocar a nota fiscal”, prática amplamente conhecida e resultante da guerra fiscal entre os estados. Se isso não bastasse, as solicitações de retirada de itens pós-consumo dos mais de três mil pontos atendidos pela ADS Logística Ambiental em todo o país não são feitas de forma a viabilizar a organização de roteiros capazes de otimizar o transporte e reduzir as emissões dos veículos envolvidos. Nossos clientes ficam sem espaço para acumular toners vazios, e demandam a sua retirada imediata. As lâmpadas descartadas não podem esperar a organização de um itinerário otimizado de atendimento, porque se tornam um problema na organização do almoxarifado das empresas. Quem descarta pilhas, baterias, e tantos outros artigos eletroeletrônicos, quando empresas, não podem usufruir da rede de pontos de entrega voluntária criada a partir do acordo setorial, pois precisam de “documentação” para apresentar a auditores e fiscais que diligentemente demandam comprovação da correta disposição dos resíduos gerados.
Dessa forma, seguimos em frente buscando criar um ambiente de negócios sustentável do ponto de vista econômico (sem atendimento às necessidades de nossos clientes, a empresa não é remunerada e não sobrevive), ambiental (mesmo sem as placas fotovoltaicas e os veículos elétricos, reciclamos 100% do material que recebemos, inclusive as embalagens que nossos colaboradores trazem de casa) e social (prestando um serviço de qualidade superior, geramos empregos e renda a tantas famílias, além de formar profissionais e cidadãos com maior conhecimento e experiência sem deixarmos de buscar maneiras criativas, inovadoras, inspiradoras e disruptivas (parte do vocabulário da moda) para sobrevivermos.
Com essa mentalidade e atitude, contribuímos para um “desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. ”Nossos avós talvez nos dessem conselhos como “não mude pelos outros” ou “seu nome é seu bem mais valioso” ou ainda “trabalho só vem antes de dinheiro no dicionário”, que podem não ser tão atuais, nem modernos, tampouco buzzwords do mundo corporativo, mas certamente nos trouxeram até aqui. Relativizando o mito e viabilizando a realidade, é possível que, aí sim, estejamos criando gerações futuras mais humanas.
Quer saber como sua empresa pode se beneficiar dessa nossa atitude? Converse com a nossa equipe. Sinta-se à vontade para comentar, sugerir, compartilhar, pesquisar e evoluir conosco.
contato@adslogisticaambiental.com.br
Fontes:
https://ideiasustentavel.com.br/horizonte-sustentavel/
https://www.significados.com.br/mito/
https://estradao.estadao.com.br/caminhoes/caminhao-eletrico-cada-vez-mais-reais/
https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/
Foi ainda no século 19 que os primeiros veículos automotores com motores a combustão foram apresentados ao mundo. Karl Benz, Gottlieb Daimler, Wilhelm Maybach, Rudolf Diesel, Ferdinand Porsche, Henry Ford, William Morris, Walter Chrysler, Louis Chevrolet, Armand Peugeot e os irmãos Louis, Marcel e Fernand Renault, dentre muitos outros, revolucionaram o modo como nos locomovemos, nas cidades ou nas estradas, a trabalho ou a lazer, sozinhos ou acompanhados.
Em 2020, 77,9 milhões de veículos automotores foram produzidos em todo o mundo, e mesmo que consideremos uma queda de 15,8% em relação à produção global do ano anterior, 2019, ainda podemos refletir: e para onde irão todos eles ao final da sua vida útil? Por um momento, deixemos a questão dos combustíveis fósseis não renováveis de lado para focar no que vai sobrar depois que nosso querido carro zero km não for mais bacana assim, quando ele virar sucata.
O peso médio de um carro compacto gira em torno de 1.300 kg, enquanto um SUV ultrapassa os 1.600 kg. Um pelo outro, colocamos alguns caminhões e ônibus no pacote, conta de padeiro mesmo, chegamos a 120 mil toneladas de veículos automotores produzidos em 2020. Agora, imagine alguém com consciência ambiental descartando uma singela latinha de alumínio, que pesa aproximadamente 14,9 gramas, num ponto de reciclagem. Reciclar a latinha de alumínio é algo mundialmente aceito e praticado, não é? Só mais um pouquinho de matemática, e todos aqueles veículos automotores fabricados no ano passado equivalem a aproximadamente a oito bilhões de latinhas de alumínio, isto é quase uma latinha para cada habitante da Terra. Por ano.
Enfim, vamos parar de produzir, comprar, utilizar e descartar nossos veículos? Não.
Mas talvez seja importante pensar em como esses veículos se transformam depois de nos servirem por tanto tempo.

A nossa operação de logística ambiental procura, além de coletar, transportar, separar, destinar e documentar os diversos componentes de um veículo automotor, também mapear como isso é feito e mensurar o impacto para a sociedade.
Confessamos que ainda não encontramos uma solução mágica para o problema. Tampouco criticamos o consumo das pessoas pois isso é uma escolha pessoal. O que, sim, fazemos, é tentar estudar um pouco melhor o antes-e-depois dos itens pós-consumo que nós movimentamos todo dia e buscar maneiras mais inteligentes de aproveitar os recursos materiais, tecnológicos, energéticos e ambientais aos quais temos acesso.
Fonte:
https://www.acea.auto/figure/world-motor-vehicle-production/
Não faz tanto tempo assim que tínhamos chapas na beira da estrada, conferentes nas transportadoras, digitadores nas empresas, guias de ruas no carro, telefones orelhão nas calçadas, ruídos estranhos no motor, agenciadores de carga nos postos de gasolina e tantas outras coisas que quem tem menos de trinta anos de idade talvez nunca tenha ouvido falar!
Chapas? Sim, aquelas pessoas que se aglomeravam na beira da estrada nas primeiras horas do dia para oferecer seus serviços aos motoristas que chegavam às grandes cidades. Nem todos conheciam os caminhos para seus destinos, muitos precisavam do chapa não só para orientação no trânsito mas também para ajudar na carga e na descarga dos caminhões. Paletização, sistemas de esteiras, plataformas hidráulicas, empilhadeiras e tantas outras tecnologias não tão sofisticadas assim praticamente eliminaram a necessidade dos braços fortes dos chapas. Perdido no trânsito da cidade grande? Impossível, hoje qualquer um sabe usar o GPS do celular.
Conferentes? Bem, depois que descobrimos que tanto os ajudantes quanto os motoristas podiam conferir a quantidade de volumes e os demais dados das notas fiscais, os conferentes tornaram-se dispensáveis. Com a leitura ótica de códigos de barras, então, babáu, até o celular hoje tem leitor de código de barras e viabiliza a operação de conferência de modo digital. Digitador? Vixi, nem pensar. Notas fiscais e manifestos hoje são eletrônicos, documentos são transmitidos e recebidos online, a baixa de entrega está no celular do entregador, o tracking é visualizado via web ou por qualquer aplicativo baixado no mobile de todos nós.
Guias? Isso, aquele catatau com mais de 500 páginas com mapas da cidade recortados em infinitas porções que você começava a seguir numa folha e depois precisava buscar a próxima para descobrir onde a rua terminava. E agora? Ninguém lembra mais disso, está tudo no painel do veículo com um sistema de navegação onboard, ou no infalível celular preso ao para-brisa num daqueles suportes que todos temos. Ao cair da noite, a tela passa a ter um fundo preto. Se é de dia, tudo branquinho. E ainda pode centralizar, ampliar, encaminhar, compartilhar, ufa!
Orelhão? Ah, sim, aquelas conchas enormes geralmente da cor laranja (sou do tempo da Telesp, ainda antes da Vivo e suas conchas azuis) onde nos abrigávamos do sol, da chuva e do ruído enquanto procurávamos as fichas (sim, tínhamos que tê-las no bolso!) para fazer as ligações. Sem ficha, até dava, mas tinha a musiquinha do ta-ra-ta-ra-ra-ta-ra-ra anunciando que a pessoa chamada teria que pagar pela ligação, sem contar que quem atendesse podia não concordar com a cobrança e desligar na sua cara. E hoje? Bem, nem precisa explicar que todos nós temos – pelo menos – um celular à mão o tempo todo.
Manutenção? Se você ainda é da época que precisava ter um bom ouvido pra diagnosticar algum ruído diferente para saber que algo poderia não estar funcionando adequadamente no veículo, hoje tem apito pra tudo, mensagens no painel, travas de segurança e um arsenal impensável até poucos anos atrás. Ninguém ouve mais nada, só lê. Tem até imagem da câmera de ré! E, nas oficinas, nada de ferramenta, é tudo no tablet. Sem contar que diagnósticos e soluções também são possíveis remotamente. Chamar o guincho para uma emergência envolvendo um veículo mais moderno é algo raro e impensável.
Agenciador? É, aquele sujeito super articulado, simpaticão, geralmente numa salinha do posto de gasolina ou numa banca próxima dos terminais de carga que sabia quem queria contratar uma carga de retorno e negociava a informação com os motoristas e as transportadoras. Neste século, isso é algo chamado “de aplicativo”. Motorista de aplicativo, frete de aplicativo, pagamento de aplicativo, e por aí vai.
Até aqui, nada de novo, não é? A tecnologia veio para ficar, não vai parar de evoluir. Então, qual é a reflexão? Pessoas!
Sim, pessoas! Pessoas que fazem parte de um contingente que tinha uma função importante anos atrás e, tanto com o envelhecimento natural da nossa população, descobrem que o que faziam com maestria no passado agora não é mais necessário à sociedade como um todo.
Sim, pessoas! Também os jovens ditos digitais, geração Z – millennials já são cringe – de hoje que parecem não saber pensar, compreender, decidir, e vivem numa rotina automática de fazer somente o que está “no sistema”. Ainda que saibam como funcionam as novas tecnologias, se desconectam da realidade, do senso comum, as necessidades não previstas do dia-a-dia.
Algoritmos, sistemas, inteligência artificial, bots, memes, apps, e tantas outras rotinas incorporadas de tal forma no nosso cotidiano parecem ter sido capazes de desplugar nossos intelectos, desconsiderar nossos raciocínios, deletar nossas intuições. E assim, o admirável mundo novo da mobilidade e da logística – até então desejado e saudado por todos nós na era das techs – acaba desprezando aqueles que não se adaptaram as mudanças tecnológicas e escravizando aqueles que pensam estar atualizados.
Qual é a solução? Bem, eu não sei a resposta, mas sigo em frente ponderando a importância da história do passado para compreender e vivenciar o presente e me preparar para o futuro. Fica o convite!
Adalberto Panzan Jr., empresário brasileiro, 56 anos, em 28/06/2021.